terça-feira, 23 de abril de 2013

Me olhou com aqueles olhos que fariam Bentinho duvidar da ressaca dos de Capitu e sorriu com lábios que fariam inveja a Iracema.
-Para de me olhar assim.
-Assim como ué?
-Fico sem graça.
-Se tu quer assim. - digo e começo a olhar pra mesa, percebendo ainda assim que ela sorri.
-Para. Tu sabe do que eu to falando, conversa normal.
-Ta bom então.
Ela mexe no cabelo, o coque desfazendo, alguns fios caem na testa e ela assopra de uma maneira que parece uma ninfa perdida nessa selva de pedra.
-Fala alguma coisa. Sem ser alguma coisa.
-Ta boba hoje, quer dizer tu é boba sempre, hoje só tá pior.
-Acho que tinha alucinógeno nesse refri.
Quem pelo amor de Deus fala refri? É tosco. Mas não ela falando, fica parecendo poesia, frase de Clarice, música de Caetano, soneto de Pessoa. Fica lindo.
-Tu sumiu.
-Que mudança de assunto em?
-Responde.
-Que nada. Tive sempre aqui, tu que não me via.
-Eu to boba e tu ta escorregadio. Me responde, isso ai é música.
-Desculpa. Tava meio mal.
-Podia falar comigo.
-Foi mal.
-Ta bom.
Eu vi que ela ficara triste e não fiz nada. Começa ai nossos desencontros, ou recomeça quem sabe.Ela perfeita e literata, eu tolo e tosco e incompleto.
-Então, tenho que ir.
-Mas já? - arregala os olhinhos tão doces e me corrói.
-Pois é.
-Bom te ver.
-Aparece.
E vou deixo ela que poderia ser minha alma gêmea, deixo por medo. Deixo porque não sei amar.

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