sexta-feira, 27 de setembro de 2013

... E vendo o homem com os olhos abertos como tudo passa, só nós vivemos como se não passáramos. (...) Todos imos embarcados na mesma nau, que é a vida, e que todos navegamos com o mesmo vento, que é o tempo; e assim como na nau uns governam o leme, outros mareiam as velas; uns vigiam, outros dormem; uns passeiam, outros estão assentados; uns cantam, outros jogam, outros comem, outros nenhuma coisa fazem e todos igualmente caminham ao mesmo porto; assim nos, ainda que não pareça, insensivelmente imos passando e avizinhando-se cada um a seu fim: porque, conclui Ambrósio, tu dormes e o tempo anda: Tu dormis et tempus ambulant. Disse pouco em dizer que o tempo anda; porque corre, voa; mas advertiu bem em notar que nós dormimos; porque tendo os olhos abertos para ver que tudo passa, só para considerar que nós também passamos parece que os temos fechados. (...) considerando este continuo passar homem, diziam os sábios da Grécia que todo homem que chega a ser velho morre seis vezes; e como? Passando da infância à puerícia, morre a infância; passando da puerícia à adolescência, morre a puerícia; passando da juventude a idade de varão, morre a juventude; passando da idade de varão à velhice, morre a idade de varão; finalmente passando de viver por tanta continuação e sucessão de mortes, com a ultima que só chamamos morte, morre a velhice. (...) se o sol que sempre é o mesmo, todos os dias tem um novo nascimento e um novo acaso, quanto mais o homem por sua natural inconstância tão mutável, que nenhum é hoje o que foi ontem, nem há de ser amanha o que é hoje!
-Pe. Antonio Vieira

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