terça-feira, 27 de novembro de 2012

Sentado daquele jeito até parecia vulnerável, a cabeça por cima do braço jogada nos joelhos, tão largado. Queria correr até ele, mas minhas pernas pareciam estranhamente pesadas. Fui andando lentamente dando longas respiradas, cada passo ele parecia mais uma miragem.
-Levanta.
-Ah, você.
Admito que o tom de sua voz me magoou, mas relevei afinal não sou conhecida pela paciência ou delicadeza.
-Sim, sou eu. Levanta.
-Me deixa.
-Para de drama.
-Cala a boca e sai daqui.
Encarei os cabelos pretos irregulares e rebeldes, lembrei da maciez que era tocar neles, observei suas costas se movimentarem com a respiração, acabei me desarmando. O que estava fazendo ali? Não tínhamos mais nada um com outro, nem conversamos mais direito, não tinha razões para me envolver nos problemas dele que não eram mais meus. Não vi quando ele levantou a cabeça tão entorpecida nos meus pensamentos.
-Se não vai embora pelo menos senta.
Sentei e fiquei ali olhando para as mãos dele apoiadas no chão, tinha arranhões que presumi serem de uma queda qualquer, olhei os braços tão mais fortes do que há um ano atrás. Como ele mudara nesse tempo separados, um novo homem.
-Eu não quero falar sobre nada, não vou pedir desculpas e não me arrependo de nada.
-Eu acho que sei disso.
-Sabe? - ele pareceu confuso, fora fácil demais me convencer
-Devo saber. Nem sei porque eu vim falar contigo.
-Saudades, aposto. - ele riu e foi como se de novo acendesse um chama no meu peito
-Não. Vim ver se tava tudo bem.
-Tá sim e quando não tá sempre fica. Nem se preocupa.
-Acho que é melhor eu ir, você precisa pensar em quantas pessoas magoou com seu ataque de rebeldia.
-O que? Meus pais?
-Também. Tua namorada tava preocupada.
-Deixa ela. Menina chorona do caramba.
-Ela te ama.
-Eu gosto dela, mas não sei eu...
-Pensa ai sozinho. Já vou.
-Se tu quer vai.
E fui. Não sei se para sempre, deixei ele lá com as mesmas rebeldias, mesmos dilemas, continuando na busca por liberdade vim viver minha vida. Amei-o mais até do que imaginara, era o meu melhor amigo, meu tudo. Mas cresci, crescemos e não deu mais. Não dá. Ele continua lá lindo e sensível, sexy e bobo, charmoso e canalha, continua sendo ele. Virei de costas, sempre chega a hora de continuar.

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