domingo, 11 de novembro de 2012

De quando em quando ela conserta o vestido, olha no relógio. Já faz algum tempo que espera, as pessoas a encaram, porém não se importa. Ele disse que viria,então não se preocupa mais com quando, apenas espera. O café esfriou, o pão de queijo agora mais parece uma massa nojenta, a garçonete já viera na mesa umas duas vezes perguntar se queria mais alguma coisa: todos sempre querem, tal pergunta deveria ser retórica. Observou suas mãos, estavam mesmo ásperas, diferentes das macias de outrora. Queria sentir se livre para sair dali, mas não podia; prometera esperar e agora cumpriria sua promessa. Viu um vulto entrar no restaurante, quando se tornou claro notou cada detalhe. Desde o cabelo bem arrumado, a camisa de botão, a calça jeans escura, o sapato social, a mochila que um dia fora preta. Esperou ele se sentar, pedir o café sem leite e sem açúcar, bater papo com a garçonete. Se levantou e foi até ele, a surpresa era tangível quando ele a encarou.
 -Pensei que não viria.
 -Você pediu. Estou aqui.
 O abraço foi de certa forma inesperado para ela, não tinha noção da verdadeira importância de sua presença. Sentaram-se na mesa em que ela estava; encararam-se durante alguns minutos apesar de o tempo se tornar apenas um vago elemento daquele reencontro
. -Imagino se esperou muito. Devo me desculpar?
 -Estamos aqui, não? Ele se contorceu ao tom de voz dela, era doloroso lembrar o que os tinha levado a se distanciar. Porém naquele instante não mais importava. Por minutos ele falou com ela que ainda permanecia distante, a garçonete os observava, haviam pedido mais café e biscoitos. Quando ela falou, sua voz parecia entrecortada, parecia soluçar.
 -Em que posso te ajudar?
 -Nada.
 -Então porque me chamou aqui?
 -Apenas queria…Sentia sua falta.
 -Me desculpe. Preciso ir. 
-Espera!
 Ela parou, os cabelos ainda esvoaçavam, o vestido amassara nas bordas, os olhos estavam marejados. Ele segurou seu braço, parecia desesperado, o cabelo bagunçara e a blusa manchara de café.
 -Não vai agora.
 -Esperei demais.
 Tá na minha hora
. -A gente tem tanto que conversar… 
-Não, não tem. Você esperou tempo demais.
 E souberam que aquela frase continha verdade. Esperaram demais, os dois. Esperaram e o tempo não volta atrás.

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