Sorri.
Estranho como as palavras, minhas velhas amigas de sempre, sumiam. Minhas
frases parecem cortadas e irregulares e meu monólogo interior, isso aqui pra
ser mais exata, não tem sentido algum.
-
Ta calada porque?
Como eu explico que se abrir a boca
corro o risco de falar algo parecido com: “aaahh owwwn aimeudeus que fofo me
abraça”, ou seja ficar ainda mais retardada. Sorrio de novo, consigo sentir
minhas bochechas quentes e a garganta apertada, “você sorri desse jeito e eu
que já perdi a hora e o lugar...”.
-Fiquei sem saber o que te dizer.
Ai você chega mais perto de mim e eu
lembro daquela música pop que fala sobre sentir o corpo pulsar como um martelo,
o que não tem sentido nenhum se você parar pra pensar. Mas entendo as cantoras,
parece que meu sangue quer sair das minhas veias e ir para as tuas, algo meio
mórbido e profundo.
-Mas então tu vai sair comigo, moça?
Sair? Eu quero bem mais que isso.
Meu Deus, cara, eu já imaginei até a legenda da nossa foto de casalzinho.
Exagerada sempre, jogada aos pés de alguém, nunca.
-Vamos sair sim, pra onde já sabe?
-Surpresa.
Amo surpresa. Odeio surpresa. Quero
saber de tudo, adoro a sensação de quando algo te surpreende de verdade. Se eu
já sou confusa, contigo é como seu eu virasse um buraco negro. Apesar daquela
música falar que “tudo está em ordem num buraco negro”. Ordem? Cadê? Onde?
Quando?
-Adoro surpresa. Que dia?
-Prática. Eu te aviso pode ser?
Despedidas. Odeio. Não gosto. Não
sei o que fazer. Melhor falar uma
piadinha da internet sorrir e seguir em frente tropeçando. Apesar de que você
não deixaria eu fazer isso, você merece mais que isso. To pensando demais.
-Pode ser sim.
-Então, eu já vou indo.
-Tá cedo.
- Tenho que estudar ainda.
Acho que você está mentindo. Não vou
te falar isso. Mostrar o quanto me importo, o quanto sou paranoica.
-Ah, tá certo. Me avisa então.
Meu coração. Está no pulmão. Não, na
boca. Não, no pâncreas, na faringe, na laringe. Em todos os lugares ao mesmo
tempo. Consigo sentir o seu perfume, me
afeta como um soco no estômago. Tudo me
afeta.
(...)
Queria descrever, dizer que eu
estava pensando, mas não. Me sinto meio surtada até agora. Meio bem, meio
louca. “Você me bagunça, tumultua tudo em mim”. Nem acredito que você me
beijou, sério mesmo. E ainda sorriu e disse:
-Te ligo.
Com a maior naturalidade, nem
reparou que eu estava meio boba, meio aérea. Nem reparou na bagunça. E eu
sorri, e não consegui mais parar. Sorrindo até agora, um maneira fofa de
parecer o coringa. Nem sei como acabar esse monólogo, nem sei. Queria saber. To
repetitiva vou ficar falando de você até cansar, se é que dá pra cansar de
você. Acho que não.
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